Espelho meu, espelho meu há alguém mais otimista do que eu?
Aumentos previstos para 2012
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+ debate político
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+ responsabilidade nos atos políticos
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+ estima pelo bem público
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+ visitas aos amigos
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+ convívio familiar
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+ vivência comunitária, tertúlias e associativismo
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+ recurso à Internet como ferramenta de contestação
A historiadora Irene Pimentel acredita que o agravamento das condições de vida poderá "dar mais força à discussão política". "É uma esperança que eu tenho, que vai aumentar o debate político". Outras expectativas passam por haver "mais responsabilidade nos atos políticos" e "mais estima pelo bem público".
O escritor Mário Zambujal acredita que as pessoas vão "visitar-se mais": "Vão juntar-se nas casas umas das outras para uma festinha." À força de consumirmos menos e pouparmos mais, vamos reduzir as idas ao restaurante e a outros espaços de lazer, e estar mais tempo em casa. Uma das consequências será o aumento das refeições caseiras, até para levar também comida para o trabalho.
Os encontros familiares serão mais frequentes e, em alguns casos, diferentes gerações poderão viver juntas: "É possível que deixe de ser viável que as pessoas da classe média tenham familiares em instituições privadas, que são caras. E que os familiares mais idosos fiquem mais tempo junto das famílias, que voltam a ser alargadas", avança o sociólogo e professor da Universidade de Coimbra, Elísio Estanque.
Maria Filomena Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Demografia, também acredita que tal poderá acontecer, sobretudo "nas famílias com baixos recursos": "Haverá um retorno dos avós ao lar. Com o desemprego, as pensões dos idosos acabam por ajudar na gestão do orçamento." (Esperemos que não aumente igualmente a violência, o sequestro e o roubo das pessoas idosas.)
O presidente da Cáritas Diocesana do Porto, Barros Marques, acredita que estes comportamentos fomentarão "um estilo de vida mais comunitário e menos individualista: "Vamos criar laços de alguma economia doméstica, familiar, fazer reuniões com amigos", partilhando comida. "E regressarão as grandes tertúlias e o associativismo, como espaços de debate, de troca de impressões, de esclarecimento, nos quais as pessoas sintam que estão a remar juntas."
Inês Pereira, investigadora nas áreas dos movimentos sociais e novas tecnologias da informação no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, acredita que este ano, e no que respeita à contestação, acentuar-se-á "o recurso à Internet, como forma de divulgar causas, como meio de convocar e concertar ações transnacionais, e como palco de uma "guerrilha informacional"
"Entraremos numa fase em que temos de travar esta sede desesperada de consumo, de querer ter tudo, sempre mais, e vamos chegar a um ponto de nos voltarmos para coisas que não estão à venda nos shoppings, como ver nascer o sol na Arrábida", afirma o escritor Mário Zambujal .
Excertos do artigo de Maria João Lopes no jornal Público de 22.01.2012